quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Envelhecer

Tomei meu banho, e me olhei no espelho. Cabelo molhado, lápis preto borrado. 


Há algum tempo já vinha alimentando pensamentos do tempo. Me olho no espelho com aquela curiosidade de quem acabou de nascer, mas já sabe algo da vida. Como eu serei... Velha? Não tenho medo dessa palavra, velha é velha, velha é idosa, idosa é vivida. Tudo estereótipo pra velha, no final das contas. Envelhecer: os jovens estão preparados pra isso?


Dizem que não se pode pensar assim (aliás, adoro esse "não se pode", como se fosse uma lei instaurada contra a vontade própria do pensar), que temos de pensar no agora. Acontece que minha mente não foi feita pra pensar no agora, ela está sempre um passo a frente. Não que eu SAIBA o que vai acontecer, mas de fato, imagino. Imagino mil e uma cenas, mil e uma casas, empregos, filhos, animais e tatuagens. Não, eu não desisti das tatuagens, apenas coloquei elas um pouco abaixo da lista de "eu quero".


Mas voltando, estamos preparados? Não, não estamos. Toda essa coisa de sexo, drogas e sertanejo universitário me dão a impressão de que parte dessa população jovem vai envelhecer sozinha. Pela fama que cria ao longo do tempo, ou por ser chata mesmo. Pessoais legais gostam de pessoas que pensam. Pessoas legais não gostam de pessoas que vivem TODA a sua vida com o copo pra cima cantarolando tchetchererectchetche. Pessoas legais gostam de gente que corre atrás do que quer, de quem sonha. 


Penso que quando envelhecer vou me tornar uma pessoa meio observadora. Se eu ainda puder escrever, acho que vai ser nessa época que vai sair um livro bacana. Pode ser coisa da minha cabeça, mas acredito que quando envelhecer (digo bem velhinha mesmo, não ~na flor da idade~) vou pensar na morte. Mas vou pensar na morte como uma passagem, como uma velha amiga que veio me buscar. 


Mas e essa vida, Zé? É por amor ou por dinheiro? Eu vos respondo: é por amor. O dinheiro não vai te levar chá na cama se você tem cólicas, dinheiro não vai acariciar sua barriga e conversar com o bebê enquanto ele está ali, dinheiro não vai ensinar seu filho a andar de bicicleta, não vai assistir sua menopausa chegar, não vai te fazer companhia ao assistir o Programa do Raul Gil. Amor é coisa divina, Zé. E olha, não se compra. Se compra o prazer, o orgasmo, a luxúria. Mas amor profundo, de acariciar a perna peluda sem nojinho, é divino. 


Quero envelhecer ao lado do amor. Posso apostar que o encontrei, e esse amor é o candidato perfeito pra envelhecer comigo. Rir das coisas mais idiotas possíveis, estragar os netos, fazer bolinho de chuva e chocolate com leite à tarde. Se chora, encosta a cabeça aqui e bota pra fora. Terei um abrigo de cães no meu pequeno sítio, onde ensinarei meus netos a amar os animais profundamente como eu amo. Serei a avó mais legal desse mundo, mas deixarei a mais valiosa das lições para os pequenos:


A vida é feita de amor, e de amor ela sobrevive. Amor é comum de dois. Amor é amar, simplesmente. E amar é o que faz o mundo mostrar os dentes.


De felicidade, Zé! Não de rosnar.